Coordenador do PT recebeu R$ 2,6 milhões de empresa da Farra do INSS

Ricardo Bimbo recebeu R$ 2,5 milhões. No mesmo período, pagou R$ 10 mil a contador investigado por lavar dinheiro para o PCC

Por Valentina MoreiraAndre Shalders, Metrópoles 12 de Novembro de 2025 às 13:11
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Coordenador do PT recebeu R$ 2,6 milhões de empresa da Farra do INSS
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações suspeitas entre o coordenador do Setorial Nacional de Tecnologia e Informação do PT, Ricardo Bimbo, e a ADS Soluções e Marketing, empresa suspeita de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro de aposentados do INSS. A Farra do INSS foi revelada pelo Metrópoles.

A ADS transferiu R$ 120 mil para a conta pessoal de Bimbo e outros R$ 8,29 milhões para a Datacore, empresa de tecnologia da qual ele é sócio. 

Segundo Relatórios de Inteligência Financeira enviados à CPMI do INSS, os repasses à pessoa física ocorreram entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024. Além disso, entre agosto de 2023 e julho de 2024, a ADS realizou 22 transferências à Datacore que somaram os R$ 8,29 milhões — R$ 2.5 milhões foram transferidos após Bimbo ter ingressado na sociedade.

No mesmo intervalo, o petista pagou um boleto de R$ 10.354,60 ao contador João Muniz Leite, então responsável pelas contas de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Muniz Leite foi alvo da Operação Fim da Linha, do Ministério Público de São Paulo, sob suspeita de lavar dinheiro para o PCC. Após o episódio, deixou de atender o filho do presidente.

Procurado, o contador disse que não se lembra o motivo de ter recebido o valor.

Petista desde 1989, Bimbo integrou o grupo de trabalho da campanha de Lula em 1998 e ocupou cargos na estrutura do partido. Na gestão de Marta Suplicy na Prefeitura de São Paulo (2001–2004), atuou com Rui Falcão, então secretário de Governo. Seu nome foi citado em investigação do Ministério Público paulista sobre suposto favorecimento a instituições ligadas a militantes do PT, como o Instituto Florestan Fernandes.

Participação da ADS na Farra do INSS

A CPI apurou que, apesar de registrada como empresa de marketing, a ADS recebeu montantes expressivos de entidades que promoviam descontos suspeitos na folha de aposentados.

Entre fevereiro de 2023 e julho de 2024, a Potyguar Associação de Proteção e Defesa dos Aposentados transferiu R$ 43,1 milhões; a AAPPS, R$ 23,2 milhões — alvo da primeira fase da Operação Sem Desconto; e a Apdap Prev, R$ 5,2 milhões, com bens bloqueados pela AGU.

A ADS também repassou valores a outros investigados. O escritório de advocacia de Eric Fidelis, filho do ex-presidente do INSS, André Fidelis, recebeu R$ 2,6 milhões. A empresa ainda realizou transações com uma companhia da esposa do ex-procurador-geral do INSS, Vigílio Antônio Riberia de Oliveira Filho.

Os registros financeiros mostram que a ADS tinha, até dezembro de 2024, um saldo devedor de R$ 2,98 milhões com a empresa de Bimbo. Além disso, entre agosto de 2023 e julho de 2024, a intermediária fez pelo menos 22 transferências à Datacore, que somam R$8.29 milhões:

- R$ 2.952.033,00 (7 TEDs): Período de 01/08/2023 a 30/11/2023.

- R$ 2.816.815,00 (5 TEDs): Período de 01/12/2023 a 29/02/2024.

- R$ 2.528.762,73 (5 TEDs): Período de 01/03/2024 a 31/07/2024.