Os anos pós-pandemia foram extremamente desafiadores para a Alemanha e o Chanceler Olaf Scholz, realmente não teve sorte em nenhum momento de seu governo. De uma nação economicamente paralisada à uma guerra no leste do continente, Scholz não teve problemas fáceis para resolver, mas também lhe faltou competência política. A escassez de capacidade de ler e interpretar as demandas nacionais, sobretudo da classe média, a base do seu eleitorado mais fiel, lhe custaram caro.
A postura fraca, o tom monocórdico de seus discursos e o não cumprimento de promessas de campanha, estimularam um grande sentimento de rejeição a seu governo. Com a queda da coalizão governista em novembro de 2024, o pleito antecipado em 2025 confirmaria a sua impopularidade, custando não apenas a chefia do governo, mas um péssimo resultado histórico ao seu partido.
Mais de 83% dos eleitores alemães compareceram às urnas neste domingo, o enviaram seus votos pelo correio, tornando as eleições deste ano, o pleito com maior taxa de comparecimento desde a reunificação alemã em 1990. Como esperado, a legenda conservadora, de centro-direita, a Union, arrematou quase 30% dos votos, tendo agora a responsabilidade de formar um governo e tornar Friedrich Merz o próximo Chanceler.
Em seguida, a sigla de ultradireita, AfD, Alternativa para Alemanha, conseguiu a sua maior votação da história, acima dos 20% e mostrando claramente que sua agenda anti-imigração é uma tendência por toda a Europa. Os sociais-democratas, legenda histórica da esquerda alemã, teve por sua vez, a pior performance da sua história, ficando pouco acima dos 16% dos votos.
A vida mais cara por toda a Alemanha não apenas desacelerou a maior economia da Europa, mas pesou no orçamento familiar em todos os 16 estados do país. A crise migratória, o aumento da violência urbana e a sensação de insegurança, também afastaram o eleitorado da atual coalizão governista e aumentaram consideravelmente o voto nas siglas conservadoras. Apesar de um desempenho abaixo do esperado, a Union, terá a prioridade na formação de governo e agora terá que esperar a contagem final de todos os votos para encontrar na aritmética a opção política mais favorável.
A possibilidade de formação de governo entre conservadores e sociais-democratas depende muito da entrada ou não de dois partidos no parlamento. Na Alemanha, a cláusula de barreira de 5%, faz com que partidos abaixo desse limiar não sejam politicamente representados em Berlim, redistribuindo os assentos do Bundestag proporcionalmente entre os partidos acima da barreira. Esses cálculos, ainda longe de estarem plenamente resolvidos, serão feitos por todos os políticos alemães, principalmente, pelo Herr Merz durante os próximos dias.
Apesar do novo governo estar planejando assumir apenas perto da Páscoa, e com isso, ainda não sabermos quais serão os ministros e as políticas de estado, algo neste 23 de fevereiro é certo, a vitória das direitas. Em um momento de grande instabilidade e de perspectivas desanimadoras, volta ao poder o mais tradicional partido do país, mostrando que a maioria relativa da população alemã, escolheu uma fórmula familiar para tentar resolver os problemas.
Do outro lado vemos o crescimento expressivo dos extremos, tanto a direita, quanto a esquerda radical, que juntos são quase 30% da população. Isso evidencia que muitos, sobretudo os jovens desesperançosos, encontraram nas propostas pouco ortodoxas uma mensagem que lhes pareceu solucionar seus principais problemas.
As próximas semanas exigirão muita habilidade política de Friedrich Merz para correr contra o relógio imposto por Donald Trump e Vladmir Putin, que buscam resolver os problemas da Europa, sem a Europa. Os desafios não são poucos, mas a vibrante democracia alemã, que renasceu das cinzas da mais brutal das guerras e dos regimes, encontrará mais uma vez um caminho para fazer o motor de todo um continente, continuar andando adiante.
Fonte: Jovem Pan