A despedida solene do Papa Francisco foi realizada em uma grandiosa cerimônia na Praça São Pedro, marcada pela simplicidade de sua essência. O sepultamento na Basílica de Santa Maria Maggiore colocou o sumo pontífice em seu lugar de descanso final, finalizando um ciclo de reformas que transformou a Igreja Católica nos últimos 12 anos. Apesar da continuação do luto oficial através dos Novemdialem, os clérigos e os fiéis em todo o mundo perguntam-se qual será o futuro de uma das mais antigas instituições ainda em atividade. Hoje, como uma forma de responder aos anseios de mais de 1 bilhão de pessoas, o Vaticano confirmou que o processo de escolha do próximo bispo de Roma, terá início na semana que vem, no dia 08 de maio.
A história do conclave é centenária e já foi marcada por episódios tensos e períodos extremamente longos de deliberação. No século XIII, no ano de 1268, a escolha do pontífice se estendeu por mais de 2 anos e 9 meses, levando os cidadãos da cidade de Viterbo, onde se realizava o conclave, a literalmente trancarem os cardeais na igreja e remover as telhas do telhado, obrigando através da exaustão física, a tomada de uma decisão.
Em 1271, após racionamento de comida, sob chuva e sol, os cardeais se decidiram por Gregório X como Papa, que deveria retornar da Terra Santa para assumir o pontificado. Após várias mudanças na constituição apostólica, o processo se tornou bem mais ágil, algo comprovado através dos últimos seis conclaves, desde 1958, que tiveram entre 2 e 4 dias de votação apenas. O Papa João XXIII foi eleito em 4 dias, e Papa Francisco em apenas 2, por exemplo.
A tarefa de dar um bispo à Roma e um sumo pontífice a todos os católicos envolve não apenas compreender o espírito do tempo e as necessidades de determinada geração, mas poder manter séculos de tradição católica em sua essência. 135 cardeais têm menos de 80 anos, portanto, estão aptos a votar no conclave, dos quais 108 foram nomeados pelo Papa Francisco.
O princípio da igreja universal ganhou ainda mais significado com Francisco, já que dentre os cardeais eleitores são 71 países representados de todos os 6 continentes habitados. A Europa continua a ser o continente com maior número de cardeais, 51, mas não possui o mesmo peso percentual de outrora. As Américas juntas chegam aos 37 cardeais, enquanto África e Ásia trazem ao conclave, 18 e 23 respectivamente.
Países como Tonga, República Centro-africana, Papua Nova Guiné e Sudão do Sul terão seus representantes na capela Sistina para escolher um bispo para Roma. Francisco trouxe os países do Sul global e da periferia do poder vaticano, para o centro das decisões que moldarão o caminho para a próxima geração de católicos. Todavia, a grande falta de familiaridade de cardeais recém feitos, pode transformar o conclave em um exercício complexo de compreensão intercultural.
De fato, muitos papas idosos e com saúde instável, ao perceberem a falta de vitalidade nomeiam vários cardeais nos últimos anos do pontificado para poderem garantir um bom quórum, caso ocorra um conclave. Cardeais de longínquas partes de nosso planeta também não são grande novidade, mas a variedade cultural construída por Francisco para o conclave de 2025 se mostrará um desafio inicial inegável.
A maior parte dos valores defendidos pelo catolicismo supera barreiras linguísticas e geográficas, tratando de temas amplamente conhecidos por todos e de caráter universal. Porém, as diferentes culturas, intrínsecas às realidades de cada cardeal em seus ministérios é um fator a se considerar, assim como tais realidades implicam em uma construção de diferentes visões de mundo acerca do que é prioritário como papel da igreja perante a sociedade.
Um cardeal que atua como arcebispo de uma grande cidade europeia, com forte tradição católica e com igrejas de grande estrutura, vê na estagnação do crescimento da Igreja, talvez o problema principal a ser enfrentado pelo novo Papa. Enquanto isso, um jovem cardeal que comanda uma diocese em uma capital africana, onde a maior parte das pessoas vive em pobreza multidimensional, vê na crescente desigualdade e a falta de oportunidades às famílias que frequentam a igreja, os maiores desafios para colocar em prática os ensinamentos do Evangelho. Essas questões tão diferentes, mas concomitantemente tão necessárias de serem endereçadas ainda em nosso tempo, poderão tornar as discussões mais longas e a deliberação mais complicada.
A partir da próxima semana, as Eminências se encontrarão na Casa de Santa Marta e na capela Sistina para momentos de oração, reflexão, discussão e escolhas que determinarão direta e indiretamente o futuro de milhões. A composição continental feita pelo Papa Francisco será um grande teste ao vice decano do Colégio Cardinalício, Pietro Parolin, para encaminhar as votações a um caminho produtivo e que traga unidade e compromisso, ao invés de mais divisão e divergências. A nós, cidadãos do mundo comuns e com o acesso vetado à capela Sistina, basta especular, apostar e esperar pela fumaça branca da chaminé mais famosa do mundo.
Fonte: Jovem Pan