O cão de suporte Teddy, que auxilia Alice, uma menina autista de 12 anos, finalmente chegou a Portugal na madrugada deste sábado (31) depois de ter ficado 52 dias longe da família e após três tentativas frustradas de embarque. A repercussão do caso fez com que uma negociação entre o Ministério de Portos e Aeroportos, o pai da menina e a empresa aérea TAP ocorresse. Só assim o animal pôde seguir viagem acompanhado pelo treinador Ricardo Cazarotte, em um voo da própria companhia aérea portuguesa, ao lado da irmã de Alice, Hayanne Porto.
Glauco Lima, treinador profissional e referência em cães de assistência e alerta médico na América do Sul, aponta que a diferença entre Teddy e um cão de suporte emocional está no tipo de treinamento, nas funções que desempenham e nos direitos legais que possuem. “Negar o embarque é negar humanidade. É inadmissível que ainda exista esse tipo de exercício retrógrado no Brasil. É preciso que haja o cumprimento rigoroso de decisões judiciais, principalmente em casos envolvendo saúde e inclusão. Capacitação das companhias aéreas sobre o papel dos cães de serviço e os direitos das pessoas com deficiência é pauta emergencial”, destaca.
Conforme relatos dos familiares em diversas entrevistas, o cão é essencial na rotina de Alice, já que consegue, através do faro, detectar crises de ansiedade antes que elas aconteçam e intercede, diminuindo a agitação e evitando desconfortos. Para a psicanalista Cintia Castro, autora de diversos livros sobre o espectro, a falta de um cão de serviço pode ter um impacto profundo na vida de uma criança autista. “Sem a presença do cão, a criança pode sentir um aumento significativo de ansiedade. Para muitas crianças autistas, o cão de serviço é um porto seguro que proporciona uma sensação de segurança e tranquilidade”.
De acordo com a irmã, a menina teria passado diversos dias procurando o cão na nova casa, o que vem de encontro à informação da especialista. “Quando esse amigo não está mais presente, pode surgir um sentimento de vulnerabilidade, tristeza, solidão, mudanças de comportamento, agressividade e a socialização pode se tornar ainda mais difícil, desencadeando crises ou episódios de estresse, uma vez que a criança não tem mais a mesma fonte de apoio”.
Para Glauco, que viaja o mundo treinando cães em prol da saúde, casos como esse servem como alerta sobre o papel da legislação, sociedade e política diante desse quadro. “Precisamos de leis mais claras e fiscalização mais rigorosa para proteger quem depende desses animais, expandindo a informação através da medicina e política, criando órgãos competentes na área da saúde para poder certificar os tutores e seus cães, como é desenvolvido nos Estados Unidos e Israel, onde a pessoa passa por provas e avaliações para receber uma habilitação. Além disso, é preciso ter empatia no atendimento: situações como essa exigem sensibilidade, não burocracia”, finaliza.
Fonte: Jovem Pan