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Quarta-feira, 21 Maio, 2025

Maternidade? A verdade sobre os bebês reborn que ninguém conta

Elas existem há muito tempo e, principalmente, as mães de meninas sabem e já gastaram com as chamadas bonecas realistas como presentes para suas filhas. Fato é que, ultimamente, com a repercussão negativa de casos envolvendo os bebês reborn em brigas judiciais, dentre outras confusões, o assunto tomou uma proporção que vai além da conta e da paciência de muitos.

Tudo paira sobre um raciocínio simples: é preciso discernir a realidade da ficção. “Eu sou colecionadora dessas bonecas há mais de 20 anos e tenho isso como hobby. Até minha filha de 5 anos entende que se trata de uma brincadeira. Por que as pessoas fazem questão de julgar? Eu divulgo o trabalho de artistas que confeccionam esses bebês e ajudo famílias com isso, qual é o problema?”, fala Nane Alves, produtora de conteúdo que atualmente tem 15 bonecos em sua coleção.

A influenciadora teve um vídeo viralizado quando contou aos seguidores que se envolveu em uma discussão com duas idosas no meio de um shopping. “Elas já chegaram me acusando e me chamando de maluca. As pessoas se baseiam em um vídeo de três minutos que jogam na internet como brincadeira, mas é preciso aprofundar a questão. Esses bonecos inclusive fazem bem para a saúde mental de muitas pessoas e isso é algo comprovado. Porque eu não posso ter coleção de bonecas e homens podem ter coleções de carrinhos, réplicas e bonecos tipo super-heróis? Todo mundo pode tudo, desde que não atrapalhe o direito do outro”, defende.

Nane Alves, produtora de conteúdo que atualmente tem 15 bonecos em sua coleção (Divulgação)

Notícias falsas para ganhar likes aumentam fama negativa

De acordo com Bruna Graciotto, artista que produz os bebês há mais de 12 anos, a origem de tudo foi promover o amparo psicológico e terapêutico de muitos após grandes traumas. “No meu dia a dia vejo clientes que são amparadas por profissionais de saúde e seguem com o hobby visando melhor no quadro clínico geral delas. São mulheres que sofreram com o chamado ninho vazio, quando os filhos deixam as casas dos pais, até depressão, Alzheimer, dentre outros quadros”, declara.

Ela tem a mesma opinião de Nane e outras mulheres que colecionam os bonecos e diz que os vídeos que circulam na internet mostrando bebês reborn em busca de atendimentos de saúde, furando filas de prioridade, dentre outras bobagens, são falsos e só servem para gerar likes. “Eu nunca sofri preconceito por conta do meu trabalho, pelo contrário, só tenho e recebo elogios porque isso é uma arte e deve ser respeitada como qualquer outro trabalho. As pessoas estão extremamente equivocadas e não sabem diferenciar uma encenação da vida real. Nunca confundiram um bebê reborn com um bebê real, tudo não passa de uma brincadeira”, enfatiza Bruna.

Para ela, não existe lado negativo na história. “Tenho ajudado a curar dores reais, por exemplo, de mães que permaneceram com seus filhos nos braços por curtos períodos e hoje tem a chance de reviver a emoção de abraçar um boneco que lembra aquele filho ou filha. E todo tipo de criação é especial porque nos atentamos a cada mínimo detalhe. São inúmeros os casos que já presenciei e testemunho, inclusive fora do Brasil, porque sempre estou atualizando técnicas e produzindo os bebês da maneira mais real possível. É possível, por exemplo, fazer uma réplica, por aproximação através de fotos, de seu filho quando pequeno. E o preço desse trabalho fica em torno de R$ 4000 porque é algo minucioso, exclusivo e muito estudado. Aqui não tem brincadeira, na produção eu dou vida ao sonho, e a emoção de cada mãe ao receber o bebê é e sempre será única”.

O que diz a psicanalista sobre a polêmica em questão

Para Cintia Castro, psicanalista, há sim prós e contras, mas é preciso avaliar cada situação com o máximo cuidado. O hobby, no caso dos bebês reborn, permite que os admiradores cuidem, personalizem e criem laços emocionais saudáveis com esses bonecos, o que pode ter efeitos terapêuticos significativos. “Isso pode ser especialmente benéfico para pessoas que lidam com luto, infertilidade ou solidão, já que os atos de cuidar e se conectar com um boneco pode evocar sentimentos de amor e satisfação. É uma conexão sadia e muitas vezes acompanhada por um terapeuta”, explica a especialista.

No entanto, quando essa prática ultrapassa os limites do hobby e se transforma em uma confusão entre fantasia e realidade, podem surgir questões mais complexas. “Tratar um boneco como se fosse um filho verdadeiro pode parecer inofensivo no início, mas, na verdade, pode resultar em um afastamento da vida real. Essa falta de distinção entre hobby e realidade pode levar a problemas emocionais como ansiedade e depressão. E, ainda, o fato de depositar atenção total ao brinquedo desvia a pessoa de buscar resolver seus conflitos internos. Cuidar de um bebe reborn tem seu lado positivo desde que a pessoa mantenha os pés no chão e não perca o contato com a realidade e os relacionamentos que realmente importam. Tudo é uma questão de equilíbrio.”

De acordo com estudos publicados na Revista Brasileira de Terapias Cognitivas de 2019, o uso de objetos simbólicos permite ao enlutado criar uma narrativa e ritualizar sua dor. “Ou seja, ao cuidar de um bebê reborn, a pessoa pode reexperimentar a conexão e a sensação de pertencimento, ajudando a suavizar o peso da perda. O contato físico com o boneco pode desencadear a liberação de dopamina, promovendo momentos de alegria e produção de ocitocina, hormônio essencial para estabelecer laços afetivos e reduzir a ansiedade”, fala Cíntia.

Ainda, terapeutas têm observado respostas emocionais significativas em pacientes com Alzheimer ao interagirem com objetos simbólicos. “O Alzheimer pode isolar e destruir memórias valiosas, mas o contato com bebês reborn pode ajudar a reavivar o sentimento de conforto e conexão emocional que muitos pacientes ainda têm. O uso dos bonecos não apenas ativa a memória emocional, mas também provoca respostas positivas no sistema límbico, promovendo um aumento no bem-estar e uma redução na angústia”.

E a psicanalista ainda complementa: “A interação com objetos de cuidado, como bebês reborn oferece efeitos positivos na redução da ansiedade em pacientes com Parkinson, segundo diversos estudos já publicados. O quadro, além de desafiador, traz sensações de ansiedade e depressão sendo que os bebês reborn podem servir como uma forma de distração e apoio, proporcionando conforto nas pequenas interações através da estimulação da liberação de serotonina que promove a sensação de felicidade e bem-estar”, finaliza.

Fonte: Jovem Pan

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