O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou novas diligências no caso do Banco Master. Em decisão nesta segunda-feira (15), Toffoli determinou que a Polícia Federal colha depoimento de investigados, além de diretores do Banco Central.
O magistrado considerou novas diligências como “urgentes”, não só para o sucesso das investigações, como também para a proteção ao Sistema Financeiro Nacional.
São investigados Daniel Vorcaro, dono do Banco Master; Augusto Lima, sócio de Vorcaro; Luiz Antônio Bull, diretor de compliance do Master; Alberto Félix de Oliveira, superintendente executivo de Tesouraria do Master; e Angelo Ribeiro da Silva, sócio do Master. O ministro determinou a realização imediata das seguintes diligências preliminares, com prazo inicial de 30 dias para conclusão:
* oitiva dos investigados pelo Delegado de Polícia Federal designado pelo diretor-geral da Polícia Federal, a fim de que possam esclarecer, em detalhes e com apresentação dos respectivos documentos, as denúncias em apuração;
- oitiva dos dirigentes do Banco Central do Brasil sobre questões de sua atribuição envolvendo as atividades do Banco Master e de possíveis desdobramentos envolvendo outras instituições financeiras;
- possibilidade de apresentação imediata de pedidos de requisição, pelo delegado acima designado, de informações necessárias de órgãos públicos ou de empresas sobre as denúncias em apuração nos autos; e
- possibilidade de apresentação imediata, pelo delegado, de requerimentos individualizados de afastamento dos sigilos telefônicos-telemáticos, de correspondência ou fiscais em desfavor dos investigados ou de terceiros, desde que formulados com a devida justificativa para apreciação específica, nos termos da lei.
As oitivas poderão ocorrer por videoconferência ou presencialmente em uma das salas de audiência localizadas no STF, devendo ser gravadas e acompanhadas pelos magistrados auxiliares do gabinete de Toffoli.
Tomada de decisões por Toffoli
As ações fazem parte da autorização de Toffoli para andamento da ação. Em 3 de dezembro, Toffoli determinou que as decisões de todos os processos relacionados ao Banco Master no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) ou instâncias inferiores fossem remetidas à Suprema Corte. A partir daquele momento, Toffoli passou a ser responsável pela tomada das decisões do caso.
A decisão de Toffoli ocorreu em processo sigiloso no STF e diz: “Diante de investigação supostamente dirigida contra pessoas com foro por prerrogativa de função, conforme inclusive já noticiado pela mídia formal, fixada está a competência da corte constitucional”, argumenta o ministro, relator do caso.
Assim, fica estabelecido que qualquer decisão judicial há de ser avaliada previamente pelo STF, e não mais pela instância inferior. O STF deve comunicar ao diretor-geral da Polícia Federal, ao Juízo da 10ª Vara Federal de Brasília, ao Tribunal Regional da 1ª Região e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) onde tramita um pedido de habeas corpus da defesa.
“Defiro, também, o acesso pelo Departamento de Polícia Federal, consignando que até ulterior apreciação do pedido, que se encontra pendente de manifestação da Procuradoria-Geral da República, novas diligências e medidas devem ser previamente submetidas ao crivo desta Suprema Corte, cuja competência originária se encontra estabelecida, até final decisão a respeito da presente Reclamação. Inclusive sobre outras investigações conexas”, diz trecho da decisão.
Vorcaro foi preso no âmbito da Operação Compliance Zero e ficou detido por 12 dias, tendo a prisão revogada e sido solto no sábado (29/11). Além dele, são investigados: Augusto Lima, Luiz Antônio Bull, Alberto Félix de Oliveira e Angelo Ribeiro da Silva.
Sigilo
Logo após chegar ao Supremo Tribunal Federal (STF), Toffoli decretou segredo de justiça no processo de autoria da defesa do dono do Banco Master, Daniel Vorcaro. No dia 2 de dezemebro, Toffoli impôes sigilo e aumentou o grau de confidencialidade de acesso, de forma que decisões não ficam visíveis ao público nem mesmo as iniciais das partes.
Vorcaro ficou preso por 12 dias, no contexto da Operação Compliance Zero, que investiga suposta fraude bilionária envolvendo carteiras de crédito negociadas pelo Master com o Banco de Brasília (BRB). Ele foi solto no sábado (29), após a relatora do caso no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), Solange Salgado da Silva, revogar a prisão do executivo e de outros quatro investigados, com imposição de medidas cautelares.
A defesa de Vorcaro levou o caso ao STF na semana passada, devido à citação de um parlamentar que já é investigado no âmbito de outro processo, analisado pela Suprema Corte, sob a relatoria do ministro Nunes Marques.
Investigações
A Operação Compliance Zero investiga compra de carteiras de crédito falsas do Banco Master pelo BRB, com uso de empresas de fachada, como a Tirreno.
A Polícia Federal apontou que, embora o BRB descreva possuir processo formalmente estruturado para aquisição de carteiras – envolvendo filtros de elegibilidade, manifestações de diversas áreas, aprovação colegiada e registro na B3 –, “verifica-se que tais mecanismos não foram eficazes para detectar as irregularidades graves posteriormente apontadas pelo Banco Central, como a existência de créditos insubsistentes, sobreposição de CPFs, originação por empresa recém-constituída sem histórico (Tirreno) e ausência de comprovação documental dos contratos subjacentes”.
A PF indicou que o BRB aceitou a restituição de R$ 6,7 bilhões diretamente da Tirreno, a empresa que seria de fachada. A Tirreno assinou acordo para pagar o valor em seis meses – de junho a dezembro de 2025. Segundo as investigações, os R$ 6,7 bilhões pagos pelo Master à Tirreno pelas carteiras de crédito, antes de serem repassadas ao BRB, continuam disponíveis em conta vinculada, mas o BRB não exigiu a devolução imediata.
“Assim sendo, não se justifica que o BRB ao invés de exigir a devolução imediata de seus 6,7 bilhões, pela compra de itens absolutamente insubsistentes, tenha optado por tranches mensais, o que só corrobora a hipótese criminal de que a vontade inicial do BRB sempre foi de emprestar dinheiro ao Banco Master”, afirmou a PF em documento enviado à Justiça Federal.
Inicialmente, a PF havia nomeado a operação como Ostap Bender, em referência ao personagem vigarista do romance O Bezerro de Ouro, dos autores soviéticos Ilya Ilf e Yevgeny Petrov. Posteriormente, o nome escolhido foi Compliance Zero.